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sábado, 4 de novembro de 2023

CAPOEIRA REGIONAL E SUAS GRADUAÇÕES, A MUSICALIDADE E OS PRINCÍPIOS

    CAPOEIRA REGIONAL E SUAS GRADUAÇÕES, A MUSICALIDADE E OS PRINCÍPIOS

Dr. da Regional Mestre Bimba- Manuel dos Reis Machado

Dentro da metodologia da capoeira temos um processo de aprendizado que vai aumentando e amadurecendo o nível de execução e perícia dos movimentos: golpes e contragolpes naturais dentro da Regional, mas que requer treino, disciplina e estudo diário. Temos também a educação musical e o seu aprimoramento ao longo da vivência escolar, sempre dentro dos princípios e tradições típicos da Regional.

Movimentos mais evoluídos, que são para alunos mais graduados, como os ligados, são um caso a parte, poque são movimentos que além dos balões tem como objetivos: a defesa de armas, imobilizações e alguns movimentos que são perigosos que causam fraturas e lesões corporais. São movimentos utilizados no curso avançados de especialização e que não são utilizados dentro da roda, mas ensinados no contexto exclusivo da especialização, portanto não são permitidos dentro da roda de Capoeira da Regional (Nenel, p.52).

Para atingir a formatura Mestre Nenel criou as fases em que o aluno passam por processos de avaliação, são representadas por estrelas. São 5 (cinco) etapas, ou cinco estrelas, até chegar na  graduação da formatura do lenço azul. E depois o aluno formado e graduado ingressa no curso de especialização I (lenço vermelho). E, posteriormente, no curso de especialização II (lenço Amarelo).

 Na Capoeira Regional as estrelas e os lenços são as formas de avaliar e de se graduar dentro de um sistema acadêmico e sua metodologia seguindo uma lógica de ensino e graduação dentro da Filhos de Bimba Escola de Capoeira (FBEC):

“Como uma reverência aos valentões de rua, que usavam lenços de seda no pescoço como proteção, na Regional usa-se lenços em cerimônias, como homenagem ao seu percurso dentro dessa metodologia” (Nenel, p. 36).

 

De acordo com Dr. Decânio:

“... no estilo Regional, havíamos adotado os lenços de colorações diversas, para mostrar a graduação, dos nossos atletas, instrutores e mestres, fundamentados em argumentos históricos, segundo a tradição, os antigos capoeiristas usavam no pescoço um lenço grande de seda natural marca Leão! Instrumento de defesa contra a navalha, muito empregada nas brigas de rua, na ocasião da formatura os atletas recebiam um lenço azul” (Decânio, p.181).

 

As estrelas foram incorporadas em lugar dos cordões pela FBEC, ajuntamentos com os lenços, são 5 estrelas até chegar a formação do lenço azul: primeira estrela, segunda estrela, terceira estrela, quarta estrela e quinta estrela. Depois a formatura e especialização:

Lenço Azul- Formandos e Instrutores

Lenço Vermelho – Especialização I

Lenço Amarelo – Especialização II

Lenço Branco – Mestrando

 

Lenço Branco é caracterizado pelo “signo de São Salomão” e se estiver bordado nos cantos na cor verde, o mestrando é versado em canto e que demonstra habilidades em instrumentos musicais e cânticos. Essa é a graduação máxima da Capoeira Regional, para poucos dentro do universo acadêmico Regional, muito raro.

Para ser mestre em Capoeira, é preciso dominar a arte da luta e do domínio da musicalidade, aptidão nos instrumentos musicais da Regional, em especial o berimbau. Ser mestre não é apenas um “cargo” ou um “título”, dado a uma pessoa, ou simplesmente feito por meio de um exame ou a uma prova. Mas é um ato de respeitabilidade, conquistado ao longo de um tempo, dentro de uma vida toda dedicada a Capoeira.

E também atrelado ao bom caráter, ao respeito e a amizade. Para “ser mestre” precisa-se formar pessoas em cidadãos. O mestre não se forma em uma academia, ele torna-se com o tempo. Esse tipo de graduação serve para as instituições e não para a luta capoeira em si, sendo uma mera formalização social.

Ser Mestre é ter atitude e postura de Mestre dentro do universo da Capoeira, ser respeitoso e ter boa fama. E principalmente ter o reconhecimento da comunidade aonde é morador. Mestre Bimba foi considerado um líder comunitário com presença marcante na comunidade aonde morava.

Dentro desse simbolismo podemos associar o azul como sendo a cor da regional, verde o aspecto musical signo de: “São Salomão”; configura a sabedoria e inteligência. E o branco como a pureza e a perfeição do Mestre de Capoeira, não por exame ou avaliação, mas por reconhecimento por parte da comunidade aonde atua. Isso é o fato relevante na vida de um Mestre, reconhecimento provindo de seus discípulos e alunos na arte da Luta Regional Baiana. Exemplo maior são: Mestre Bimba e seu filho Mestre Nenel.

É bom lembrarmos que essa graduação foi com certeza influência dos alunos de medicina e dos colégios militares de Salvador, na Bahia. Durante a vivência com Mestre Bimba contribuíram para construir um caminho (metodologia). Ao qual Mestre Bimba adotaria dentro da Regional. Assim houve uma formalização de graduação seguindo modelo acadêmico, isso é inovador.

Tenho também que relatar aqui que a Capoeira Regional tem os seus princípios o que se difere dos demais estilos, como também forma dos cânticos e ritmos que são exclusivos da Regional.

Esses são os princípios básicos da Regional: 

·       Gingar sempre;

·       Esquivar sempre;

·       Jogar sempre próximo ao parceiro;

·       Todos movimentos devem ter objetivos;

·       Conservar no mínimo uma base ao solo;

·       Obedecer ao ritmo do berimbau;

·       Respeitar as guardas vencidas;

·       Zelar pela integridade física e moral do camarada” (Nenel, p. 47).

 

Lembrando que o respeito é base dos princípios da Regional. Um aluno mais velho que está mais apto e com uma agilidade melhor, jamais vai se aproveitar da fraqueza do aluno mais novo com pouca habilidade. Terá uma atitude que visa sempre preservar e salvaguardar a integridade do educando mais novo. Esses princípios são os elementos que educa para ser cidadão e formam na Capoeira Regional.

A demais gingar sempre e nunca ficar parado e sempre próximo ao seu parceiro num jogo encaixado. Mantendo a objetividade do golpes e  dos movimentos respeitando os toques do berimbau. Sempre mantendo a base na ginga e nos movimentos.

E sempre com os ouvidos atento aos toques do berimbau e obedecendo seus ritmos e a sua melodia. Respeitando as limitações do próximo e suas guardas vencidas e zelando pela integridade física do seu oponente. Assim o aluno mais novo aprende a se defender, a atacar e cair no chão sem medo e traumas.

Sobre as tradições a cadeira, ou como Decânio expressa: “uma velha cadeira”; faz parte da metodologia. O próprio Bimba utilizava uma cadeira de madeira antiga para trabalhar com seus alunos para o exame de admissão.

Sempre após ensinar a base da ginga, Bimba a ensinava pegando na mãos dos alunos. E posteriormente, Mestre Bimba, pegava a cadeira e propunha ao aluno que fizesse duas vezes com as duas pernas: meia-lua de frente, armada e meia-lua de compasso. Esses movimentos permitiam o aluno a aprender e ir criando a noção de distância e de altura na cadeira.

Nesse momento que Bimba corrigia o aluno e o ensinava na cadeira. E era também a mesma que ele usava para descansar e trabalhar na sua oficina. No caso podemos também realizar a sequência do Mestre Bimba na mesma cadeira em casa mantendo a base do seu ensino (Nenel, p.53).

Outro traço que diferencia a Regional de outros estilos de capoeira  é formação da sua orquestra nas rodas da Regional é a  charanga: um berimbau e dois pandeiros. Que é acompanhada com as palmas dos alunos e o couro e refrões das quadras e dos corridos. As palmas são sempre três: “a palma de Bimba é um, dois, três!”.

Uma orquestra reduzida e afinada de alta qualidade de bons tocadores. Sendo o berimbau o mais importante o que dá o ritmo e tônica do jogo, depois os 2 (dois) pandeiros que são seguidos das palmas. E depois a cantoria, disso depende a harmonia e a boa energia, segundo Mestre Nenel: “o berimbau segue o cantador, os pandeiros seguem o berimbau e as palmas seguem os pandeiros” (p.54).

A música determina o jogo: o seu gestual e os seus movimentos dentro de uma roda de Capoeira. E modo de se expressar no seu gingado é individual. Sendo isso gerado dentro do ser (nível subconsciente e inconsciente)  que expressa a  sua vontade instantânea e espontânea.

Também é um ato coletivo que não pertence unicamente a um praticante ou educando, mas no complexo de dois seres dentro da roda e dos demais que estão em volta: a orquestra e os alunos nas palmas e no couro. Que sob a regência musical atuam num processo que culmina na fusão do jogo, mandigado ou negaciado dos lutadores ou educandos.

Ambos vão se conectam passando a se conhecerem, de algum modo, no estado atual do outro, numa comunicação que transcende o atemporal e anespacial. Uma integração em nível espiritual, até mesmo metafísico.

Cujas vontades se contrapõem, ocorre um fenômeno de percepção direta, uma antevisão do comportamento do outro, ou seja, a leitura do jogo que antecipa e conhece sabendo o que outro vai fazer.

De acordo com o Decânio, na arte japonesa, existe a noção da existência  do domínio da arte marcial que é “dô”- caminho; e o “ju”- aprendizado da suavidade.

Desse encontro de energias multidimensionais e multivibracionais. Ao qual encontramos na Física Moderna. Efeito esse provocado pela união surreal do coro, das palmas, do berimbau, dos pandeiros e da voz do cantador gerando um gigantesco amplificador das vibrações dentro da  roda de capoeira. Esse movimento que é formado por um imenso campo energético, que envolve os capoeiras e que reflete a energia da roda.

Produzindo uma atmosfera uníssona e na integração de um só espírito: entre o canto em coro, a sintonia das palmas e o ritmo melódico do berimbau e voz do cantador, causando um êxtase supremo: a roda de Capoeira. Uma consciência global num transe coletivo que vai alcançando pela cadência vibratória e harmônica do canto e toque. A Capoeira é transpessoal. Ela é metafísica e é fruto da sabedoria africana ancestral (Decânio, p.146-147).

Antever os movimentos do jogo dentro da roda de Capoeira revela que aluno vem amadurecendo seu jogo, chamamos isso de “mandiga ou negaça”. O sentido literal da negaça no dicionário é: atrativo, burla, chamariz , drible, engano, engodo, escapatória , finta, fosquinha, isca, logro e sedução. Observe quantos sinônimos achamos dentro dessa palavra “negaça”, tendo um significado semelhante ou idêntico pertencem à uma mesma categoria gramatical. Mas, quando o formando ou aluno, adquiri esse malícia no jogo está apto a fazer um jogo cadenciado e a fugir e se esquivar na hora certa, ante prevendo o golpe do seu adversário. O jogo fica mais harmonioso, costurado, negaciado e mandigado. É um  jogo de dentro bonito de se ver, sem violência e sem golpes ou defesas que não tenham objetividade.

Dentro dos estilos musicais as quadras e corridos da Regional que se diferem das ladainhas do estilo Angola. As quadras são compostas de quatro estrofes e versos. E os corridos são estrofes curtas e com refrãos repetitivos, normalmente que são usados nos ritmos do berimbau como o São Bento Grande, Banguela e Iúna. Citamos aqui dois exemplos de uma quadra e um corrido de autoria do Mestre Mascote:

Nome Bimba é de doutor (bis)

Manoel dos Reis Machado

Ele foi um inventor, apesar de iletrado

Invenção fenomenal, fundiu batuque e a primitiva

Criando a Regional

Ela deu a volta ao mundo

Hoje a Bahia é mundial, camará

Água de beber

 

Era bimba quem batia o Machado (bis)

Coro: Lenha na fogueira

Desce a lenha

Coro: Lenha na fogueira

Corta a lenha

Coro: Lenha na fogueira

Na Regional diferente do ritimo angola temos a Banguela, se faz confusão com Benguela. Mesmo Mestre Bimba não sabendo ler e escrever. Ele sabia muito bem e dizia que o nome certo do toque é Banguela.

Temos também a Idalina,  e a Idalina compassada, a Cavalaria, a Amazonas, a Santa Maria, o Samango, o São Bento Pequeno. O São Bento Pequeno, foi recém resgato pelo Mestre Nenel. A sua execução é exatamente o contrário das notas e batidas do São Bento Grande, Mestre Nenel, que recuperou com contribuição e os testemunhos de Decânio, Edinho e Piloto que afirmavam a existência desse toque.

E quanto a origem do hino da Regional, que de acordo com Dr, Decânio:

 “... os primeiros alunos brancos de Bimba, eram uns tremendos gozadores, característica dos estudantes daquela época!.. uma galera cheia de amantes da vida ébrios de liberdade [e] devotados à gozação, como conduta e religião!.. naquele tempo Bimba executava por brincadeira, por chicana, para exibir sua qualidades musicais, pura sacanagem, uma rapsódia monocórdica, apropriada para o exercício musical, imprópria para o jogo de capoeira, adequada para a chicana, que Cisnando, por molecagem, apelidou – hino da Capoeira” (Decânio, p.42).

Esses rapazes brancos que faziam seus graçejos, faziam parte da elite estudante da época, da classe dominante, e faziam da gozação e da chicana usando esse recurso para diferenciar o estilo Regional dos catadores de dinheiro com a boca da capoeira Angola. E o hino surge justamente dessa brincadeira

 “... panha laranja no chão ticu-ticu, meu amô vai s’imbora eu não ficu, minha tualha di renda di bicu, botei prá secá, caiu nu pinicu! [apanha a laranja no chão tico-tico, meu amor vai se embora eu não fico, minha toalha de renda de bico, botei pra secar, caiu no pinico]” (Decânio, p.42-43)

São as anedotas da vida e a malícia da Capoeira. O próprio hino da Capoeira Regional nasce de uma gozação, mas é um símbolo de respeito, veneração e tradição dentro da Regional. Numa sacanagem amolecada, o próprio Mestre Bimba numa filmagem em VHS, declara como ser esse o Hino da Capoeira Regional (Nenel, p. 63).

Apesar que a existência de fundamentos e de princípios dentro da Regional. A luta não é fechada, mas uma luta aberta, e que está em constante evolução. Mesmo que seja mantida as bases tradicionais: fundamentos, tradições e princípios. Ela nos permite que seus praticantes se municiem com a liberdade de expressão. E cada aluno ou praticante tenha seu estilo próprio.

 Mais é preciso que entendemos que essa liberdade da Regional que existe para que o educador tenha um caminho e um método, e não se perca. Mas a forma de jogar e de se expressar livremente, sem preconceitos é típico da Regional que deixa esse caráter libertador para cada aluno encontrar sua modo mais confortável e seguro de aprender e praticá-la.

Essa ideia foge da padronização ou estilização da Regional. Este pensamento permeia a mentalidade de muitos na capoeira, não existe um modo de padronização do jogo ou da forma de se expressar. Muitos capoeiras que confundem a Regional como uma capoeira padronizada, isso não é verdade, cada aluno dentro da Regional tem seu estilo e modo de gingar a ser desenvolvido. E nem a velocidade do jogo define a Regional, em seu ritmo clássico do São Bento Grande, chamado de modo errôneo São Bento de Mestre Bimba.

Não é a velocidade do jogo que define a Regional e sim a obediência aos toques do berimbau que está dentro dos princípios da capoeira ao qual Mestre Bimba primava como “regra de ouro”. O que importa no jogo não é a velocidade ou o desenho dos movimentos. Mas, sim: “respeitar e obedecer” ao ritmo do berimbau (Nenel, p. 40-41).

Eventos importantes estabeleceram a transformação da Capoeira Regional dentro do cenário de seu reconhecimento e desenvolvimento, a criação da Fundação Mestre Bimba (FUMEB) idealizada pelo inesquecível Fred Abreu, que por incentivo e muitos “puxões de orelhas que  abriu os olhos” de Mestre Nenel sobre o Legado de Bimba. E o resgate e a preservação da memória da Capoeira Regional que em grande parte do crédito do trabalho da Filhos de Bimba Escola de Capoeira (FBEC) parte de Mestre Nenel.

Projeto Capoerê- crianças são futuro do Legado de Bimba

Essa evolução e reconhecimento permite a idealização  do projeto social: Capoerê; que começam a ser colocados em prática na década de 90 e  servem de instrumento da formação de crianças e adolescentes em cidadão ativos e conscientes (Nenel, p. 7-8).

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Cegueira da Intolerância

 


    Os ensaios de Saramago (José Saramago, um dos mais notáveis dentre os escritores portugueses, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, em 1998) que refletem sobre a cegueira e a lucidez nos parecem ser metáforas muito apropriadas para pensar a diversidade religiosa e os direitos humanos. Em sua obra Ensaios sobre a cegueira, o autor provoca a reflexão sobre o que significa a habilidade de enxergar, explorando a sutil diferença entre olhar e ver. A primeira, uma habilidade possível e, a segunda, uma observação mais atenciosa, detalhada. 

    Parece que é nessa direção que podemos entender a epígrafe do livro: “se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”, pois reparar é mais do que ver, implica alargar e aprofundar o entendimento sobre o que se observa. O ato de reparar está diretamente ligado à ampliação de dado nível de consciência, trazendo luz, clareza aos fatos, relações e concepções que, sob um olhar que não vê, podem ser naturalizadas e reproduzidas nas práticas cotidianas. 

    A imobilidade que nossa sociedade brasileira também vive, criou-se máximas e jargões como política, futebol e religião não se discute, tornando a cegueira do brasileiro ainda mais crônica e séria, sim se discute sempre respeitando cada um a sua opinião e posicionamento, sem ofender e sem querer impor a sua opinião ao outro... 

    Religião sempre fora um tema polêmico no Brasil, ainda mais quando se trata-se de uma religião diferente daquela que é a oficial católica cristã ou evangélica, principalmente sobre o sincretismo religioso do candomblé, umbanda e quimbanda... vulgarmente chamado como “macumba”, “bruxaria” ou tida como obra do mal, pelos populares por falta de conhecimento e pela pura ignorância. A grande proposta educacional para o século XXI é buscar através da ação e do diálogo um espaço conciliador, que não aceita a violência e nem “bulling” entre os alunos e educadores, mas promover uma cultura de paz.


 

     Em um ambiente aonde o dialogo impere uma Cultura de Paz, esse conjunto de valores, atitudes, tradições, comportamentos e estilos de vida baseados: no respeito à vida, no fim da violência e na promoção e prática da não-violência por meio da educação, do diálogo e da cooperação; No pleno respeito e na promoção de todos os direitos humanos e liberdades. O preconceito começa em não querer ver o outro, essa cegueira é latente, por falta de cultura ou simplesmente por ignorância, através de projetos de interação e trazer a escola representantes de cada religião e propor um debate amistoso e que cada um apresente as doutrinas e filosofias de cada religião é uma saída viável, mesmo assim haverá resistência, e a falta de respeito. 

    Em 2000 a 2003, numa escola na região da Zona Norte, próximo a uma comunidade humilde, EE. Baudílio Biagi, no bairro Simione na cidade de Ribeirão Preto, durante uma ministração de aula de Ensino Religioso, projeto implementado pelo Governo do Estado de São Paulo, estava lecionando sobre a diversidade e em cada aula trazia um elemento de cada religião do mundo e das encontradas no Brasil, tive um grupo de alunos que tentaram me intimidar e ameaçar outros alunos que tinham uma religião diferente da maioria dos alunos, houve a reclamação de líder da igreja e de alguns pais, que me chamaram de “macumbeiro”, e que não queriam que os filhos frequentassem as aulas de ensino religioso, que seus filhos estavam sendo doutrinados ofendendo assim a sua religião. 

    Atitude minha e da Direção foi falar que o Ensino Religioso retrata a diversidade cultural do mundo e das religiões em nosso país, sendo uma história da religião e não privilegiava nenhuma religião, visão imparcial, e que o projeto não era obrigatório enquanto matéria, mas era um projeto e não obrigava a nenhum aluno ir. Ou seja, intolerância pregada nas igrejas na cabeça de muitas pessoas impedem elas a enxergarem que existem opiniões divergentes de uma religião a outra, mas o pior é a tentativa de impor a força e por meio da violência a opinião dessas pessoas. 

    Temos que buscar alternativas viáveis, para promover a cultura de paz e mostrar que nem sempre a nossa visão e opinião são a verdade do outro e sempre no princípio da tolerância e empatia ao próximo, sendo que até Jesus pediu para amarmos o próximo e que não fazermos aquilo que não queremos a nós para o outro.

 


quinta-feira, 12 de outubro de 2023

A Verdadeira Sequência de Mestre Bimba Luta Regional Baiana "A Capoeira Regional"

 

A Base é a Ginga, tudo começa com pegar na mão do aluno principiante - ritual feito pelo Mestre Bimba para acolher o aluno iniciante na capoeira.

               A Capoeira e seus professores se preocuopam com essa interação, mesmo o gesto e o ato de “pegar nas mãos para gingar” é papel fundamental do aprendizado que deve acontecer por meio do professor mediador, pois o educando é protagonista desse processo de ensino-aprendizagem e agente da interação dentro da escola de Capoeira nos leva a uma construção coletiva.
             Muito se fala que a sequência de mestre Bimba é algo ultrapassado, o que eu digo, se engana quem pensa assim, Pedagogia criada por Mestre Bimba, é um método eficiente para se ensinar movimentos de pergunta e respostas baseados em golpes e contra-golpes, ataques e defesas básicas da Capoeira Regional, método brasileiro e original da Bahia, até chegarmos no cintura desprezada movimentos e alunos formando que exige mais destreza e técnica. Sequencia essa aprimorada pela Escola Filhos de Bimba e pelo Mestre Nenel. 
            O quadro que retrata a sequência de Bimba que é formada por 8 combinações que são executadas pelo aluno mais velho ou de maior tempo de academia, que “puxa a sequência” (aluno A), sendo duas repetições para que o aluno B possa acompanhar, para ambos fazerem os movimentos alternadamente (Nenel, p. 49-50):

 

Sequência de Mestre Bimba (aprimorada pela FBEC e Mestre Nenel)

Aluno A

      Aluno B

1ª Parte

Duas meias-luas de frente

duas guarda-baixas

Armada

negativa

 

2ª Parte

Duas queixadas

duas guarda-baixas

Guarda-baixa

armada

Benção*

negativa

Aú com rolê

cabeçada

3ª Parte

Dois martelos

duas palma

Guarda-baixa

armada

Benção*

negativa

Aú com rolê

cabeçada

4ª Parte

Dois godemes

duas palmas

Arrastão

galopante

Aú com rolê

negativa e cabeçada

5ª Parte

Giro de Arpão

guarda média e cabeçada

Joelhada

negativa

Aú com rolê

cabeçada

6ª Parte

Meia-lua de compasso

guarda-baixa

Guarda-baixa

meia-lua de compasso

Joelhada lateral

negativa

Aú com rolê

cabeçada

7ª Parte

Armada

guarda-baixa

Guarda-baixa

armada

Benção

negativa

Aú com rolê

cabeçada

8ª Parte

Benção

negativa

Aú com rolê

cabeçada





  * Mestre Bimba nunca pronunciou “Benção” sempre foi “Bença”.

 

          E para a graduação da formatura e do curso de especialização temos a cintura desprezada que é um conjunto de movimentos de projeção chamados de “balões”: apanhado, balão de lado, balão cinturado e gravata alta.

         Tem como principal objetivo treinar situações que a pessoa é agarrada e através de um movimento de projeção desvencilhar do oponente, da mesma forma o aluno A faz e o aluno B repete a sequência, essa prática ajuda o aluno no equilíbrio, na auto-confiança e na aprendizagem na estabilidade de quedas ao ser projetado e lançado (Nenel, p.50):

 

CINTURA DESPREZADA

Aluno A

Aluno B

1ª PARTE

Aú (bananeira)

apanhado

Balão de lado

tesoura de costa

     

 

Balão cinturado

 

2ª PARTE

Gravata alta

 

► Link da Sequencia do Mestre Bimba apresentada por Mestre Nenel:

https://www.youtube.com/watch?v=mo-QsntFmqU 

Fonte:

NENEL, Mestre. Bimba: um século da capoeira regional. Mestre Nenel, Lia Sfoggia (Lua Branca) (organizadora); tradução de Valter Luís da Costa (Mascote); Salvador: EDUFBA, 2018.