RITMOS DA CAPOEIRA REGIONAL

 

MESTRE BIMBA

O que difere a Regional de outros estilos de capoeira, de outras matizes  é a  charanga: um berimbau e dois pandeiros- composição da orquestra da roda. Que é acompanhada com as palmas dos alunos e o couro e refrões das quadras e dos corridos. A cantoria, disso depende a harmonia e a bom andamento da roda, segundo Mestre Nenel- “o berimbau segue o cantador, os pandeiros seguem o berimbau e as palmas seguem os pandeiros” em seu livro Mestre Bimba- um século da Capoeira Regional. Diferentemente da matize Angola, que chama ladainha suas músicas, na Regional chamamos de Quadra e Corridos.

TOQUES FAMOSOS CRIADOS POR BIMBA- SÃO BENTO GRANDE, BANGUELA E IÚNA 

  

A visão errônea sobre a Banguela na Regional, ritmo criado por Bimba, ainda se faz confusão com o termo benguela, termo utilizado por outras matizes, mesmo Mestre Bimba não sabendo ler e escrever, sabia muito bem e dizia que o nome certo do toque é Banguela. Muitas rodas a Banguela não é conhecida, ainda se executam a benguela, bem diferente do ritmo da Regional. 

Podemos identificar 12 Ritmos na Capoieira Regional:

1- São Bento Grande- que é o que mais caracteriza a Regional, usado no seu aprendizado e em seus eventos, como o Batizado, é o ritmo que menos exige habilidade de jogar

2- Banguela- é um ritmo suave e melódico, que exige um ritmo mais lento, tendendo levar o jogo mais proximo ao chão, mais baixo e lúdico, usado muito para acalmar o jogo do São Bento Grande, usados nas  formaturas como jogo floreado.

* Vale ressaltar- que "jogo floreado"- não tem nada haver com saltos e parafusos, é apenas um jogo mais negaceado.

3- Banguelinha- foi resgatado por Mestre Nenel depois que ele escutou os discos gravados pelo pai- Mestre Bimba, e descobriu o ritmo que se difere pela execução das notas ritmicas são parecidas com Banguela.

4- Idalina- é um ritmo criado por Bimba, usado esporadicamente, mimsturado a outros toques ou ocasições especiais.

5- Idalina Compassada- bélissimo ritmo com subidas e descidas na sua harmonia melodica, tem característica única, acompanhado pelo cantador que a interpreta. Esse ritmo, usado em eventos, serve para conter o comportamento de muitos capoeiristas que ainda não entendem a roda. "Roda não é um campo de batalha, é campo de vadiação" (segundo mestre Nenel)- neste caso o jogo acaba se perdendo e inflingindo um dos princípios da capoeira- "obedecer e respeitar ao ritmo do berimbau"

6- Cavalaria- conhecido como toque de aviso, conhecido históricamente, pois o código penal de antigamente proíbia a prática da capoeira em lugares públicos.

7- Amazonas- um dos mais bonitos de alto nível, tanto para sua execução como para se jogar, pouco utilizado por Bimba, somente para alunos mais antigos. Hoje somente lenços amarelos e brancos é executado.

8- Iúna- mais famosos de Bimba, muito deturpado por outras matizes. Utilizado para o jogo de formados, movimentos de projeção- cintura desprezada, como jogo clássico da Regional. Inspirados no canto na ave Iúna- macho e fêmea, macho chama e fêmea responde, durante sua execução não se canta e nem se bate palma.

* Vale Ressaltar- não é toque funebre e nem para mestres jogarem, nem existe canto ou letras de musicas para Iúna, por se tratar de um jogo de formados e de projeção tocado nas formaturas e apresentações, nos eventos da escola. Elucidando uma série de equívocos sobre a Iúna.

9- Santa Maria- bem diferente do tocado pelo mundo da capoeiragem, apesar de ter sido gravado por Bimba. Observa-se partes dele embitida no São Bento Grande.

10- Samango- resgatado a pouco tempo, em conversa entre Mestre Piloto (díscipulo de Bimba, diz a Nenel que escutou algumas execuções, só que não sabia tocar, ao qual produziu a melodia com a boca e Mestre Nenel reproduziu com berimbau. Samango, na gíria popular é "soldado" ou "polícia"- segundo Bimba era para pernada e não pra capoeira.

11- São Bento Pequeno- outro que fora recentemente resgatado por Mestre Nenel, citado pelos discipulos de Bimba- Decânio, Piloto e Edinho, sua base é exatamento o contrário do São Bento Grande, ao qual fora percebido em muitas gravações.

12- Hino da Regional- icone da nossa escola, ele é tocado em eventos e nos finais das aulas inspiração nos gracejos dos alunos de Bimba.

E quanto a origem do hino da Regional, que de acordo com Dr, Decânio:

“... os primeiros alunos brancos de Bimba, eram uns tremendos gozadores, característica dos estudantes daquela época!.. uma galera cheia de amantes da vida ébrios de liberdade [e] devotados à gozação, como conduta e religião!.. naquele tempo Bimba executava por brincadeira, por chicana, para exibir sua qualidades musicais, pura sacanagem, uma rapsódia monocórdica, apropriada para o exercício musical, imprópria para o jogo de capoeira, adequada para a chicana, que Cisnando, por molecagem, apelidou – hino da Capoeira” (Decânio, p.42).

Esses rapazes brancos que faziam seus graçejos, faziam parte da elite estudante da época, da classe dominante, e faziam da gozação e da chicana usando esse recurso para diferenciar o estilo Regional dos catadores de dinheiro com a boca da capoeira Angola. E o hino surge justamente dessa brincadeira:

“... panha laranja no chão ticu-ticu, meu amô vai s’imbora eu não ficu, minha tualha di renda di bicu, botei prá secá, caiu nu pinicu! [apanha a laranja no chão tico-tico, meu amor vai se embora eu não fico, minha toalha de renda de bico, botei pra secar, caiu no pinico]” (Decânio, p.42-43)

 Outra deturpação comum sobre o ritmo e jogo da Regional é dizer que a a luta Regional se joga em pé e é um jogo rápido e acelerado, com movimentos rápidos, cheio de acrobacias e malabarismo. Isto é um erro que as matizes de outras denominações da capoeira criaram, de uma forma enganoso, e eu vejo claramente em outras matizes. 

Aqui em Campo Grande é nítido esse engodo, eles praticam Angola e Contemporânea, vejo poucos conceitos e métodos que usamos na Regional, isso é bom porque essas matizes criaram a sua forma de resignificar a Capoeira, que os torna mais proximos da Contemporânea, e depois uma outra matiz que só partica a Angola.

A Regional é uma luta aberta, não é fechada, nem é um jogo de dentro, pois ela está em constante evolução, com suas bases tradicionais, sem perder os seus princípios, sendo praticada por seus discípulos com liberdade de expressão- sendo que cada alunos tem seu estilo de ginga e de executar seus movimentos. Outro engano é pensar que a capoeira Regional criou uma estilização ou uma padronização, esse pensamento permeia a mente de muitos capoeiras que converso. 

Cada aluno da regional tem seu modo de jogar, como diz meu mestre Mascote- "como andar, cada um anda do seu jeito"- como eu disse antes nem a velocidade do jogo define a Regional, em seu ritimo clássico do São Bento Grande, chamado de modo errôneo São Bento de Mestre Bimba. 

Não é a velocidade do jogo que define a Regional e sim a obediência aos ritmos do berimbau que está dentro dos princípios da capoeira ao qual Mestre Bimba primava como “regra de ouro”. O que importa no jogo não é a velocidade ou o desenho dos movimentos, mas, sim- “respeitar e obedecer” ao ritmo do berimbau. 


Outro erro comum é ouvir muitos capoeiras falarem que Regional é tradicional, sim ela tem tradições, mas muitos associam a questão que nosso treino é o mesmo desde a época de Mestre Bimba, e que executamos os mesmos movimentos. Sim temos nossos princípios e tradições, mas evoluímos em movimentos e em técnicas, a capoeira Regional e todas as matizes são uma constante evolução, então, falar que paramos no tempo isso é um erro grotesco.

Assite Mestre Nenel na execução dos ritmos da Regional:

Ritmos da Regional por Mestre Nenel

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