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segunda-feira, 1 de maio de 2023

ORIGENS DA CAPOEIRA

 ORIGENS DA CAPOEIRA

 

 

As origens mais remotas da luta Capoeira, a capoeiragem, em termos marginalizado pelo opressor, ou Capoeira Primitiva para o oprimido, remonta a nossa história colonial brasileira no período em que foi enraizada com a exploração do trabalho escravo. O sistema escravocrata e a nossa escravidão, no caso brasileiro, foi a que mais perdurou no mundo de 1535 a 1888 (séculos XVI a XIX), 353 anos de exploração escravista, fato que a torna, para alguns como um jogo ou brincadeira que não deve ser praticado por pessoas de bem.

Fonte: https://www.facebook.com/historiasesquecidas/photos/foto-da-fazenda-quititi-no-rio-de-janeiro-1865-observe-o-impressionante-contrast/1500161850280517/?paipv=0&eav=AfbEBEO82d1C-n9owxF37NJJxgcmn4X10yQ789QQbpqakcr58fplU5UAkvRdEmKL1n0&_rdr (Acesso 01/05/2023, as 15:24) Foto da Fazenda Quititi, no Rio de Janeiro, 1865. Contraste entre a criança branca com seu brinquedo e os pequenos escravos descalços aos farrapos (Georges Leuzinger/Acervo Instituto Moreira Salles)


Quando em 1535 os primeiros afrodescendentes foram inseridos no projeto açucareiro da costa nordestina e sudeste do Brasil, sendo uma das nossas heranças coloniais propostas no livro de Sergio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil: é a “herança escravista” do racismo. É justamente esse fator de diferenciação e exclusão que a Capoeira entra como resistência e luta contra o preconceito e a violência do homem branco colonizador contra o negro trazido da África.

Um ser humano feito de escravo e tachado de inferior, mas que tem em sua origem nobreza, alma guerreira e pensamento visionário.  Teve que se adptar e sobreviver a violenta, ação colonial no seu continente materno, e que foi retirado do seu berço materno e levado a outro continente estranho e alheio.

 

Fonte:  https://jogodavidaweb.wordpress.com/category/voce-sabia-que/ (acesso 01/05/2023, as 15:29) Punitions Publiques, Johann Moritz Rugendas. “Jogo da Vida”.

Sobrevivente numa condição sub-humana e cruel, por essa natureza emergente e adversa, criou condições para resistir e superar a tribulação da escravidão, e pós-escravidão. A qual essa herança colonial perdurou até nos tempos atuais e que foi transfigurada numa sociedade excludente e racista. Na verdade o afrobrasileiro nunca foi escravo, porque, na sua luta pela sobrevivência ele sempre superou-se com uma alma e espírito livre. É a luta Capoeira que mais expressa esse sentimento de liberdade e de dignidade humana para superação e sobrevivência diante das adversidades da vida e do cotidiano dentro de um sistema excludente e segregador.

Muitas foram as pesquisas sobre a origem da Capoeira, a pergunta que me faz refletir sobre a questão da Capoeira: qual é a sua associação que muitas pessoas fazem com o candomblé?

Desmistificando, erroneamente, muitas pessoas ligam o fato da Capoeira com a parte esotérica e religiosa da cultura afrobrasileira, principalmente com sincretismo do candomblé, mas não existe nenhuma associação concreta, pois a luta Capoeira não tem raízes no candomblé, mas sim na luta pela sobrevivênia nos centros urbanos e no campo, especialmente nas senzalas. Portanto, associar a Capoeira com os ritos do Candomblé, porque nem todos os alunos são iniciados dentro desse sincretismo, é um erro, não existe elo.

 Decânio retrata no seu livro, sobre o sincretismo na origem da Capoeira, depois de muita analogia e conversas com antigos capoeiras e “papas” da Capoeira, ou seja, as maiores autoridades do assunto, estudando os ritmos de candomblé, percebeu que o ritmo básico de Logunedé, toque básico chamado Ixejá. Toque esse que podemos encontramos como base na influência da  Cultura Nacional, como por exemplo na Música Popular Brasileira (MPB), no axé-music, no maculelê, na puxada-de-rede e no samba de roda.

Mas isso não quer dizer que nos remeta a um sentido religioso, mas culturalmente o toque e o ritmo faz parte da Cultura Brasileira. Refutando esse pensamento que o sincretismo e a religião está associada com a Capoeira o que é um engodo. Pois, a capoeira não tem relação alguma com religião ou mesmo com qualquer forma de sincretismo religioso.

Mestre Bimba insenta a Capoeira Regional de religião ou sincretismo religioso. Ele criou uma mentalidade insenta de preconceitos e isso lhe rendeu críticas de alguns capoeiristas que o acusavam de embranquecer a Capoeira. É que na verdade, Mestre Bimba enegreceu a sociedade com essa atitude valorizando a cultura afrobrasileira, principalmente, inserindo a Capoeira moderna na sociedade branca da Bahia, respeitando a diversidade etnico-cultural das pessoas. Ele abriu espaço a todos, não limitando-se somente para as pessoas ligadas a religião e do sincretismo das matrizes africanas. Mas para toda sociedade baiana, incluindo brancos, estudantes, trabalhadores e mulheres (que eram discriminadas naquela época). Essa atitude pioneira e visão para aquele contexto de época, foi de um brilhantismo e genialidade sem precedentes, um ato de ousadia e luta contra o proconceito. Portanto, Mestre Bimba, deu uma nova conotação elevando a capoeira para um patamar privilegiado, uma capoeira mais moderna, evoluída com princípios, fundamentos e tradições enegrecendo a sociedade baiana. Bimba contribui para a valorização e a visibilidade da luta Capoeira que era discriminada na época da década de 30. Foi responsável por tirar a capoeira da ilegalidade e da marginalização a projetando para a Bahia e o mundo.

Para tentar encontrar rastros da luta Capoeira na África o Prof. Dr. Edson Carneiro confirmou a presença do berimbau (instrumento utilizado na capoeira, composto de vara de madeira, uma cabaça cortada, pedaço de arame e o caxixi, com um vareta ou batuta, pedra cascalho ou um dobrão, moeda de cobre. A qual produz um toque de som monocórdico); mas em sua busca pela luta não encontrou a Capoeira fora do Brasil.

Um outro dos alunos de Mestre Bimba, chamado Jesus, capoerista, em viagem a África, tentou encontrar a luta e, ou qualquer vestígio da capoeira em Angola, encontrou também o berimbau. E o pandeiro e a viola, a chula, o samba de roda e o candomblé, mas a ausência de Capoeira em Angola era nítida.

Até mesmo, o famoso Mestre Pastinha, em viagem a Angola, não encontrou a Capoeira, fato esse que nos remete a pensarmos e a concluírmos a brasilidade da luta ter nascido aqui em nosso país.

A força das tradições africanas e a sua oralidade, e a capacidade de sobreviver a hegemonia e aculturação branca através da dissimulação, que fez forte a sua persistência de uma filosofia ancestral que atravessou a violência colonialista e do escravismo. Esse fato de resistência, com certeza favorece o fortalecimento da capoeira.

E que deixou como herença depois de anos de diásporas a cultura, religião e língua mãe, segundo de Dr. Decânio a Capoeira não desapareceu da África, ela nunca existiu naquele continente, foi procurado em outros países dentro da América, onde se vê a presença de afroamericanos e também não foi encontrada algo similar com a Capoeira brasileira.

 Mas podemos falar que encontramos outros traços da cultura africana como o candomblé na maioria dos países latino-americanos, mas nenhuma dança, ou luta similares a Capoeira, portanto, a Capoeira é originalmente nacional e brasileira.

Fatumbí Verger (Decânio, 1997, p.35-46), não detectou a Capoeira nem em referência da tradição oral africana na Angola nem do berimbau, mas foi no Zaire, no antigo Congo-Belga, área geograficamente com uma distância culturalmente razoável da região dos povos bantos. Povos esses que divergem em cultura, e, tornam-se inimigos dentro da África. E se encontram e tornam-se irmãos dentro do Novo Continente, pelo sofrimento e uma escravidão compartilhada.  Segundo Verger:

“...o toque da capoiera, união dum ritmo ijexá a um instrumento musical banto, portanto, só pode ter sido gerado, em presença dos elementos primários, o que não foi possível na África, dado distanciamento, cultural e espacial das duas nações!” (Decânio, 1997, p.35).

Foi a Bahia, o palco do encontro desses povos distantes pela cultura e espaço geográfico, mas unidos no Brasil, de inimigo comum a união pacífica de uma escravidão e sofrimento vivenciados e que faz suas divergências se apaziguarem. Ao qual se uniram nos guetos e nas senzalas e compartilharam seus hábitos e costumes, o Recôncavo Baiano foi o “cadinho” que fundiu a liturgia musical que uniu os dois povos na alegria da Capoeira (Decânio, 1997, p.36).

 Tenho a plena certeza que a luta Capoeira nasce nas senzalas e nos campos agrícolas, ao qual desde o ínicio ela foi dissimulada em danças e acrobacias para ser disfarçada, escondida dos feitores e senhores que estavam interessados na lucratividade do trabalho rural e sua produção.

Fonte: https://jogodavidaweb.wordpress.com/category/voce-sabia-que/ (acesso 01/05/2023) Gravura:  “Negroes fighting. Brazils” (Negros combatendo. Brasils), Augustus Earle. London,1824

 

Mestre Bimba,  criou a primeira academia de capoeira em Salvador, até então, a capoeira era uma luta que se praticava nas matas e nas ruas, em ambientes abertos, fora da sala de aula, ou da academia. Nome era só Capoeira, na sua fase mais primitiva e inicial, era ensinada pela oralidade, próprio da cultura africana, ou seja, a capoeira era vivenciada, não existia nenhuma aula de capoeira. O que existiam eram ambientes, locais aonde se encontravam esses mestres de cultura popular que lideravam as rodas de capoeira. E por ser proíbida, e marginalizada, muitas vezes praticada na ilegalidade da época, de uma forma as vezes dissimulada, para não atrair a atenção das autoridades policiais da época.

Na história do Brasil, principalmente na região do Nordeste, em Salvador (BA), surge a figura marginalizada do “capadócio”:  o desordeiro, o   patife  e petulante,  eram  apenas  sinônimos  pejorativos  para  o  capoeira. Encontramos  aqui nossa  mais  antiga  referência  a  esse  nome  para  a  região  de  Salvador,  registrado apenas no final  do  século  XIX.  Podemos remontar e com toda clareza que no seu princípio a capoeira não estava organizada em estilos ou escolas, mas em vivências em ambientes, que poderiam acontecer numa praça ou numa mata, ou até, no meio da rua. Mesmo o termo Capoeira, controvérsio, em muitos sentidos: mato rasteiro; mato fino que cresceu onde foi derrubada a mata virgem; ou ainda, mata que se corta ou derruba para lenha ou outros fins.

Já a Capoeira Angola nasce em um contexto emergencial, pois foi organizada por Mestre Pastinha, Vicente Ferreira Pastinha, que teve a missão de devolver a ela seu valor e visibilidade, enfraquecidas pela emergência e a rápida popularização da Capoeira Regional de Mestre Bimba. A organização da Capoeira Angola começou em torno roda de capoeira da praça Gengibirra (Jenjibirra), Pastinha foi convidado por seu antigo aluno, Raimundo Aberrê, a assisti-lo na roda de capoeira da Gengibirra.

De acordo com o próprio Pastinha, lhe aguardava uma surpresa. Os mestres Amorzinho e Antônio Maré incumbiram à Pastinha a missão de organizar a Capoeira Angola e de devolver a ela seu valor e visibilidade, enfraquecidas pela emergência e popularização da Capoeira Regional, Mestre Pastinha funda o Centro Esportivo Capoeira Angola (CECA), localizado no Largo do Cruzeiro de São Francisco, a primeira escola de Capoeira Angola. Em sua academia, Pastinha adotou um uniforme com as cores de seu time do coração, onde treinou quando rapaz, o preto e o amarelo do Esporte Clube Ypiranga.

Em 1952, o CECA foi oficializado e três anos depois sua sede muda para seu endereço mais famoso: o casarão da Praça do Pelourinho, nº 19. Neste período, Pastinha já estava com 66 anos de idade. Ou seja, a organização da Capeoira Angola foi posterior a Capoeira Regional de Mestre Bimba.

A forma acadêmica da Regional criada por Mestre Bimba, o estilo Bimba, qual encontramos a voz dos alunos de Bimba, estudantes orgulhosos, em se declararem herdeiros da Regional e que se diferenciavam dos angoleiros. Que se gabavam e se aproveitavam da igenuidade dos irmãos mais populares da angola, usando de técnica e  melhor qualificação para mostrar maior destreza no estilo regional face a angola. O que fechou a roda fragmentando ainda mais os dois estilos que se ramificariam, mas capoeira é uma só.

O próprio Mestre Bimba, segundo Mestre Nenel declara que:

“ Meu pai dizia que começou [Capoeira] dentro dos matos com os negros fugidos da senzala, pois essa era uma das formas deles se defenderem dos capitães dos matos com cabeçadas, socos, pontapés, e principalmente, rabo de arraia” (Nenel, p.40).

 

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Rugendasroda.jpg (acesso 01/05/2023, as 15:47) Johann Moritz Rugendas: "Jogar Capoëra - Danse de la guerre"    

 

De acordo com relatos Mestre Bimba iniciou a sua vida na vadiação na Capoeira, 12 anos como capoeira juntamente com os angoleiros (se assim podemos chamá-los) nas rodas de Salvador. O próprio Mestre Nenel- filho de Mestre Bimba- esclarece essa questão sobre Bimba ter sido angoleiro, assim ilucida Mestre Nenel, no seu livro Bimba: um século da Capoeira Regional:

“Se considerarmos que a Capoeira Primitiva é reconhecida como o nome Angola, aí não tem como fugir, ele foi angoleiro! Mas se pararmos para pensar que esses nomes e definições foram firmados bem depois, quando já existia a Regional, não faz sentido algum pensar assim” (Nenel, 2018).

Para esclarecimentos, a capoeira existiu primeiro, antes mesmo da Regional ou da Angola existirem, ou seja, capoeira é uma só. Os motivos que levaram a ramificação dos estilos ou arte da luta. Esse fato tem haver com a questão de que muitos capoeiras se opunham a que brancos e a elite baiana tivessem acesso aos conhecimentos ancestrais da luta capoeira, tido ela como exclusiva aos afrodescendentes. Daí a resistência e o preconceito contra Mestre Bimba, erroneamente, como se pensa não embanqueceu a Capoeira. Mas na verdade, Bimba, enegreceu a sociedade, levando e dando visibilidade para a Capoeira a elite da época, principalmente aos oficiais do exército e estudantes de medicina. Enegrecer quer dizer levar a cultura das matrizes africanas através da Capoeira Regional criada por Bimba as elites baianas e ao branco que absolveram e assimilaram a cultura negra, dando visibilidade a ancestralidade africana e a Capoeira Regional a Bahia, ao Brasil e ao mundo.

 

 

 

ORIGENS DA CAPOEIRA REGIONAL OU LUTA REGIONAL BAIANA

ORIGENS DA CAPOEIRA REGIONAL OU LUTA REGIONAL BAIANA

 

É fato que a formulação da Capoeira Regional, está ligado historicamente, a fatos da década de 30. Mas com certeza a motivação foi a proibição da Capoeira no século anterior, com o Decreto número 847, de 11 de outubro de 1890, ao qual vamos citá-lo na integra:

“Código Penal da República dos Estados Unidos do Brasil

Decreto número 847, de 11 de outubro de 1890

Capítulo XIII - Dos “vadios e capoeiras”:

Art. 402. Fazer nas ruas e praças públicas exercício de agilidade e destreza corporal conhecida pela denominação Capoeiragem: andar em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir lesão corporal, provocando tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal;

Pena de prisão celular de dois a seis meses.

A penalidade é a do art. 96.

Parágrafo único. É considerado circunstância agravante pertencer o capoeira a alguma banda ou malta. Aos chefes ou cabeças, se imporá a pena em dobro.

Art. 403. No caso de reincidência será aplicada ao capoeira, no grau máximo, a pena do art. 400. Com a pena de um a três anos.

Parágrafo único. Se for estrangeiro, será deportado depois de cumprida a pena.

Art. 404. Se nesses exercícios de capoeiragem perpetrar homicídio, praticar alguma lesão corporal, ultrajar o pudor público e particular, perturbar a ordem, a tranquilidade ou segurança pública ou for encontrado com armas, incorrerá cumulativamente nas penas cominadas para tais crimes”.³

Esse decreto perdurou até idos de 1935, quando a Capoeira deixou de ser uma arte proibida, mas vai ser em 1957, que será enquadrada o ensino da capoeira pelo Dr.Gustavo Capanema. Então Ministro da Educação que oficializou na legislação vigente mediante a diplomação o título de instrutor o mestre de Capoeira a Mestre Bimba. 

Fonte: https://www.multirio.rj.gov.br/index.php/reportagens/16849-quem-foi-mestre-bimba,-criador-da-capoeira-regional (acesso 01/05/2023, as 13:58) "Mestre Bimba se concontra com Getúlio Vargas em 1953, dizeres de Vargas: Capoeira único esporte verdadeiramente brasileiro"

       Para conseguir essa façanha o jovem Cisnando juntamente com genealidade do Mestre Bimba e através da fundação do Centro de Cultura Física, sendo acrescido o “Regional Baiano”, uma alusão a Regional Baiana, ligando a junto a Federação Baiana de Pugilismo (FBP).

        Através da figura de Fauzi Abdala João, presidente da FBP e aluno de Bimba, que organizou um campeonato que foi o.trampolim que projetou a Capoeira. Um elo que uniu a Capoeira a Confederação Brasileira de Pugilismo, tornando realidade o sonho da Federação Baiana de Capoeira e a Confederação Brasileira de Capoeira. Esse mérito foi acrescido pela elaboração de um sistema de graduação, que estimula o estudo e desenvolvimento da capoeira criando regulamento como esporte surge um anteprojeto que oficializa a Regional, numa Capoeira com fundamentos e princípios. Tendo sido enquadrada como academia, na qual a legislação vigente não permitia na década de 30 sendo proibido o termo “escola” em entidades esportivas. Dái o termo: Centro de Cultura Física, que iria dissimular o nome Capoeira, e legaliza-la a sua prática. Esse mérito é de Mestre Bimba, pioneiro que criou a escola de capoeira legalizada

Foi na década de 30 que Cisnando, apaixonado em artes marciais, chegou a Salvador provindo do Ceará, era versado no jiujitsu, pelo Mestre Takeo Yano. Em uma roda no bairro do Curuzú em que Cisnando encontrou o “gigante negro”, Mestre Bimba.

Cisnando ficou impressionado, Mestre Nenel, filho de Mestre Bimba, descreve a figura genial do pai evidente aos olhos das pessoas que não entendiam: “... é complicado para algumas pessoas entenderem e aceitarem como um homem tão simples poderia ser tão sábio”. Então, Cisnando, logo se aproximou de Mestre Bimba, pelas suas habilidades exibidas e técnicas nitidamente superiores. Quis aprender o que Mestre Bimba criou: um método de ensino rápido de Capoeira e inovador com fundamentos, princípios e tradições próprias da capoeira e do Batuque (luta dos antigos afrodescendentes no Brasil, praticada pelo pai de Mestre Bimba).

Esse foi sem dúvidas um divisor de águas, dando origem a profissionalização de instrutor de Capoeira, Mestre Bimba, e seu método Regional, ganhou visibilidade e profissionalizou a atividade de instrutor e mestre de capoeira. Para época, em que a capoeira era tida como prática marginal, com certeza o que Bimba realizou pela Capoeira entrou pros anais historiográficos: legalização da Capoeira e da profissão de professor instrutor de capoeira.

Essa projeção da Capoeira ganhou vulto e visibilidade com a apresentação, ao então interventor, mesmo título de hoje para governador do Estado da Bahia, o Tenente Juracy Montenegro Magalhães, amigo de Cisnando de confiança e conterrâneo cearense. Que consentiu a exibição da Capoeira, no palacete do governo que fora apresentada pelo Mestre Bimba a elite baiana e nesse sentido começa a ganhar força a capoeira, mas teria que chegar até a esfera Federal para ser reconhecida.

Para ser permissivo a prática da capoeira, num período de endurecimento e repressão precisava chamar a atenção do presidente Getúlio Vargas. Assim Capoeira caiu nas graças da legalidade. Foi o que ocorreu, o então presidente o Dr. Getúlio patrocinou a Luta Regional Baiana. Em julho de 1953, Mestre Bimba realizou uma demonstração de capoeira para o presidente Getúlio Vargas, que declarou: “A capoeira é o único esporte verdadeiramente brasileiro”.

E o Sr. Manoel dos Reis Machado recebeu a diplomação do Ministério da Educação como Instrutor de Educação Física, a qual era limitado pelo Ministério somente aos professores licenciados e aos instrutores. Então, endossado e assinado o diploma pelo Ministro Gustavo Capanema.

Surge assim a primeira academia, ou seja, sala de aula de Luta Regional Baiana. Assim a própria Angola foi beneficiada pela criação da Regional.

Mestre Bimba foi o responsável pela legalização da Capoeira como luta no Brasil, o mérito é todo dele pela profissionalização do ensino da capoeira tudo isso decorreu de um lento processo de conquistas ao longo das décadas de 30 a 50. Nesse período de amadurecimento da metodologia e do ensino, na realidade, Bimba já tinha formulado os princípios e fundamentos desde 1910, mas a aprendizagem da Capoeira Regional será desenvolvida posteriormente por Mestre Bimba, todo crédito a sua genialidade, o “Criador da Regional”.

Criando assim um estudo organizado com fundamentos, princípios e tradições e organização num sistema de graduação acadêmica (daí a figura do estudante Cisnando e outros alunos de medicina que contribuíram para a organizar da graduação na Capoeira como em um curso superior de medicina). Assim serão definidas as técnicas e as metodologias da Luta Regional Baiana, ou Capoeira Regional. Fundando assim o “Legado de Bimba” e a sua projeção na sociedade baiana, no sudeste e norte do Brasil, e posteriormente no mundo. Desse pontapé inicial, Mestre Bimba e a Capoeira Regional ganhou valor e visibilidade, houve a profissionalização da capoeira, ganhando notoriedade e respeito. Esse fato oficializou e legalizou as academias de capoeira dentro do território nacional, instituindo a Capoeira como ensino.

Vai ser usada como instrumento educacional, visto com destreza aos praticantes. E vai ser dentro das escolas primárias brasileiras instituída como um método 100% nacional. Método de ensino aprendizagem extremamente eficiente que trabalha para formação de cidadãos e contribuí para cultura brasileira, e da memória cultural afrobrasileira e da influência das matrizes africanas em nossa sociedade.

SAIBA MAIS:

Filme Documentário: "Capoeira Iluminada" legado de Bimba

 https://www.youtube.com/watch?v=lw8Y7eCP7XQ

 Livro Referância:

NENEL, Mestre. Bimba: um século da capoeira regional. Mestre Nenel, Lia Sfoggia (Lua Branca) (organizadora); tradução de Valter Luís da Costa (Mascote); Salvador: EDUFBA, 2018.