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sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Cegueira da Intolerância

 


    Os ensaios de Saramago (José Saramago, um dos mais notáveis dentre os escritores portugueses, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, em 1998) que refletem sobre a cegueira e a lucidez nos parecem ser metáforas muito apropriadas para pensar a diversidade religiosa e os direitos humanos. Em sua obra Ensaios sobre a cegueira, o autor provoca a reflexão sobre o que significa a habilidade de enxergar, explorando a sutil diferença entre olhar e ver. A primeira, uma habilidade possível e, a segunda, uma observação mais atenciosa, detalhada. 

    Parece que é nessa direção que podemos entender a epígrafe do livro: “se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”, pois reparar é mais do que ver, implica alargar e aprofundar o entendimento sobre o que se observa. O ato de reparar está diretamente ligado à ampliação de dado nível de consciência, trazendo luz, clareza aos fatos, relações e concepções que, sob um olhar que não vê, podem ser naturalizadas e reproduzidas nas práticas cotidianas. 

    A imobilidade que nossa sociedade brasileira também vive, criou-se máximas e jargões como política, futebol e religião não se discute, tornando a cegueira do brasileiro ainda mais crônica e séria, sim se discute sempre respeitando cada um a sua opinião e posicionamento, sem ofender e sem querer impor a sua opinião ao outro... 

    Religião sempre fora um tema polêmico no Brasil, ainda mais quando se trata-se de uma religião diferente daquela que é a oficial católica cristã ou evangélica, principalmente sobre o sincretismo religioso do candomblé, umbanda e quimbanda... vulgarmente chamado como “macumba”, “bruxaria” ou tida como obra do mal, pelos populares por falta de conhecimento e pela pura ignorância. A grande proposta educacional para o século XXI é buscar através da ação e do diálogo um espaço conciliador, que não aceita a violência e nem “bulling” entre os alunos e educadores, mas promover uma cultura de paz.


 

     Em um ambiente aonde o dialogo impere uma Cultura de Paz, esse conjunto de valores, atitudes, tradições, comportamentos e estilos de vida baseados: no respeito à vida, no fim da violência e na promoção e prática da não-violência por meio da educação, do diálogo e da cooperação; No pleno respeito e na promoção de todos os direitos humanos e liberdades. O preconceito começa em não querer ver o outro, essa cegueira é latente, por falta de cultura ou simplesmente por ignorância, através de projetos de interação e trazer a escola representantes de cada religião e propor um debate amistoso e que cada um apresente as doutrinas e filosofias de cada religião é uma saída viável, mesmo assim haverá resistência, e a falta de respeito. 

    Em 2000 a 2003, numa escola na região da Zona Norte, próximo a uma comunidade humilde, EE. Baudílio Biagi, no bairro Simione na cidade de Ribeirão Preto, durante uma ministração de aula de Ensino Religioso, projeto implementado pelo Governo do Estado de São Paulo, estava lecionando sobre a diversidade e em cada aula trazia um elemento de cada religião do mundo e das encontradas no Brasil, tive um grupo de alunos que tentaram me intimidar e ameaçar outros alunos que tinham uma religião diferente da maioria dos alunos, houve a reclamação de líder da igreja e de alguns pais, que me chamaram de “macumbeiro”, e que não queriam que os filhos frequentassem as aulas de ensino religioso, que seus filhos estavam sendo doutrinados ofendendo assim a sua religião. 

    Atitude minha e da Direção foi falar que o Ensino Religioso retrata a diversidade cultural do mundo e das religiões em nosso país, sendo uma história da religião e não privilegiava nenhuma religião, visão imparcial, e que o projeto não era obrigatório enquanto matéria, mas era um projeto e não obrigava a nenhum aluno ir. Ou seja, intolerância pregada nas igrejas na cabeça de muitas pessoas impedem elas a enxergarem que existem opiniões divergentes de uma religião a outra, mas o pior é a tentativa de impor a força e por meio da violência a opinião dessas pessoas. 

    Temos que buscar alternativas viáveis, para promover a cultura de paz e mostrar que nem sempre a nossa visão e opinião são a verdade do outro e sempre no princípio da tolerância e empatia ao próximo, sendo que até Jesus pediu para amarmos o próximo e que não fazermos aquilo que não queremos a nós para o outro.

 


quinta-feira, 12 de outubro de 2023

A Verdadeira Sequência de Mestre Bimba Luta Regional Baiana "A Capoeira Regional"

 

A Base é a Ginga, tudo começa com pegar na mão do aluno principiante - ritual feito pelo Mestre Bimba para acolher o aluno iniciante na capoeira.

               A Capoeira e seus professores se preocuopam com essa interação, mesmo o gesto e o ato de “pegar nas mãos para gingar” é papel fundamental do aprendizado que deve acontecer por meio do professor mediador, pois o educando é protagonista desse processo de ensino-aprendizagem e agente da interação dentro da escola de Capoeira nos leva a uma construção coletiva.
             Muito se fala que a sequência de mestre Bimba é algo ultrapassado, o que eu digo, se engana quem pensa assim, Pedagogia criada por Mestre Bimba, é um método eficiente para se ensinar movimentos de pergunta e respostas baseados em golpes e contra-golpes, ataques e defesas básicas da Capoeira Regional, método brasileiro e original da Bahia, até chegarmos no cintura desprezada movimentos e alunos formando que exige mais destreza e técnica. Sequencia essa aprimorada pela Escola Filhos de Bimba e pelo Mestre Nenel. 
            O quadro que retrata a sequência de Bimba que é formada por 8 combinações que são executadas pelo aluno mais velho ou de maior tempo de academia, que “puxa a sequência” (aluno A), sendo duas repetições para que o aluno B possa acompanhar, para ambos fazerem os movimentos alternadamente (Nenel, p. 49-50):

 

Sequência de Mestre Bimba (aprimorada pela FBEC e Mestre Nenel)

Aluno A

      Aluno B

1ª Parte

Duas meias-luas de frente

duas guarda-baixas

Armada

negativa

 

2ª Parte

Duas queixadas

duas guarda-baixas

Guarda-baixa

armada

Benção*

negativa

Aú com rolê

cabeçada

3ª Parte

Dois martelos

duas palma

Guarda-baixa

armada

Benção*

negativa

Aú com rolê

cabeçada

4ª Parte

Dois godemes

duas palmas

Arrastão

galopante

Aú com rolê

negativa e cabeçada

5ª Parte

Giro de Arpão

guarda média e cabeçada

Joelhada

negativa

Aú com rolê

cabeçada

6ª Parte

Meia-lua de compasso

guarda-baixa

Guarda-baixa

meia-lua de compasso

Joelhada lateral

negativa

Aú com rolê

cabeçada

7ª Parte

Armada

guarda-baixa

Guarda-baixa

armada

Benção

negativa

Aú com rolê

cabeçada

8ª Parte

Benção

negativa

Aú com rolê

cabeçada





  * Mestre Bimba nunca pronunciou “Benção” sempre foi “Bença”.

 

          E para a graduação da formatura e do curso de especialização temos a cintura desprezada que é um conjunto de movimentos de projeção chamados de “balões”: apanhado, balão de lado, balão cinturado e gravata alta.

         Tem como principal objetivo treinar situações que a pessoa é agarrada e através de um movimento de projeção desvencilhar do oponente, da mesma forma o aluno A faz e o aluno B repete a sequência, essa prática ajuda o aluno no equilíbrio, na auto-confiança e na aprendizagem na estabilidade de quedas ao ser projetado e lançado (Nenel, p.50):

 

CINTURA DESPREZADA

Aluno A

Aluno B

1ª PARTE

Aú (bananeira)

apanhado

Balão de lado

tesoura de costa

     

 

Balão cinturado

 

2ª PARTE

Gravata alta

 

► Link da Sequencia do Mestre Bimba apresentada por Mestre Nenel:

https://www.youtube.com/watch?v=mo-QsntFmqU 

Fonte:

NENEL, Mestre. Bimba: um século da capoeira regional. Mestre Nenel, Lia Sfoggia (Lua Branca) (organizadora); tradução de Valter Luís da Costa (Mascote); Salvador: EDUFBA, 2018.