Nova Era
Idiocracia Digital e o Culto à Superficialidade
Um novo tempo se instaurou no início do século XXI, especialmente a partir de 2001, com o surgimento de uma geração que se gaba por dominar as ferramentas digitais. Mas, ao invés de usá-las para ampliar o pensamento crítico, inaugurou-se o reinado da idiocracia: uma era em que a ignorância é estilizada, vendida e consumida como sabedoria.
Hoje, vivemos cercados por “coaches”, “mentores”, “gurus”, “especialistas em sucesso” e influenciadores de aparência — figuras que criam um mundo de fantasia nas redes sociais, posando com roupas de grife, carros de luxo e sorrisos falsos. A maioria vive de likes, não de verdade. Vendem prosperidade enquanto parcelam boletos escondidos. Prometem fórmula mágica, mas mal construíram algo real fora do Instagram.
São personagens criados para alimentar uma cultura neocapitalista, animalesca e doente, onde o valor do ser humano se mede pela estética e pelo engajamento, e não pela ética, pelo conteúdo ou pela trajetória. Ensinam a enriquecer rápido, não a construir com dignidade.
Essa lógica do “fast sucesso” é uma praga.
Vem tomando até as igrejas.
Até o púlpito virou palco para "coaching gospel", onde Deus é usado como sócio da ambição pessoal, e a fé se transforma em ferramenta de marketing motivacional.
Como educador com mais de 20 anos de experiência, afirmo com propriedade: falta substância, falta vivência, falta a práxis. Muitos desses “especialistas” falam bem, mas nunca suaram para construir. Estão distantes da realidade de quem pega ônibus, enfrenta fila em hospital público ou sobrevive com salário mínimo.
Sim, uso as redes. Faço parte desse tempo. Mas não sou iludido por ele.
E, diferente de muitos, não finjo ser o que não sou.
Essa geração de "falsos bem-sucedidos" repete frases como:
"Melhor viver pouco como rei do que muito como um Zé".
Mas o que essa frase revela é a pobreza intelectual de quem a propaga — não a condição de quem vive com simplicidade, mas dignidade.
Não tenho inveja de ninguém.
Vejo jovens desfilando com carrões, mulheres lindas, status. Nada contra o sucesso material, muito menos contra a beleza. Mas questiono: o que existe por trás dessa vitrine?
Muitas vezes, nada além do vazio, da falta de propósito e de uma vida montada para agradar os outros.
E aí vem o discurso: “É mérito! Ele venceu!”
Será?
Ou será que vivemos em uma farsa onde o talento se confunde com oportunismo, e onde o esforço é substituído por sorte, exposição, ou até mesmo manipulação?
A verdadeira "idiocracia" está nisso: na crença cega de que dinheiro é sinônimo de caráter, de inteligência, de valor pessoal.
Mas o dinheiro, por si só, só revela o que já estava dentro: pode mostrar grandeza... ou perversidade.
Conheço ricos desonestos, enganadores e vazios.
E conheço pobres sábios, honestos e generosos.
Dinheiro não mede virtude. Só amplifica o que já existe.
Quer ver a prova?
Coloque dois clientes em uma loja de shopping: um com roupas simples, outro vestido para impressionar. Observe a diferença no tratamento.
A forma como atendemos alguém revela mais sobre nós do que sobre a pessoa atendida.
Esse é o sistema: idólatra da estética, e cego para a essência.
Precisamos romper com essa lógica doentia.
Precisamos deixar de confundir vaidade com valor, pose com propósito, influência com sabedoria.
Chega de seguir gente vazia.
A influência que precisamos é a que vem da integridade, do exemplo, do conteúdo.
Não da pose, da grife ou da mentira digital.
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