𝐓𝐫𝐢𝐮𝐧𝐟𝐨 𝐝𝐚 𝐌𝐞𝐧𝐭𝐢𝐫𝐚 - 𝐞𝐥𝐢𝐭𝐢𝐬𝐦𝐨 𝐞 𝐜𝐨𝐧𝐯𝐞𝐧𝐢𝐞̂𝐧𝐜𝐢𝐚

 


𝐓𝐫𝐢𝐮𝐧𝐟𝐨 𝐝𝐚 𝐌𝐞𝐧𝐭𝐢𝐫𝐚 - 𝐞𝐥𝐢𝐭𝐢𝐬𝐦𝐨 𝐞 𝐜𝐨𝐧𝐯𝐞𝐧𝐢𝐞̂𝐧𝐜𝐢𝐚

    Ontem assisti ao filme Harriet – O Caminho para a Liberdade. No início, confesso que não esperava muito, mas, conforme a trama avançava, percebi que se tratava de uma obra de grande qualidade, com forte impacto social e profundo valor histórico. O filme não apenas denuncia a escravidão afro-americana no Sul dos Estados Unidos, mas também nos convida a refletir sobre a herança escravocrata que marca até hoje sociedades como a norte-americana e, sobretudo, a brasileira.


    A escravidão deixou feridas abertas que atravessam séculos. Mesmo após a abolição, ainda vivemos os reflexos de uma sociedade excludente e racista, que insiste em reproduzir desigualdades. Basta lembrar a dimensão genocida da escravidão negra nas Américas, muito maior, em números, que o massacre promovido pelo nazismo contra o povo judeu. As senzalas e fazendas de monocultura foram verdadeiros campos de concentração: espaços de tortura, castigos, estupros, violências físicas, psicológicas e emocionais indescritíveis.      

  

    Todo esse sistema foi legitimado por uma interpretação distorcida e instrumentalizada do Cristianismo, usado como ferramenta de dominação colonial. É importante dizer: essa lógica nada tem a ver com a filosofia de Cristo, mas sim com um projeto humano, pagão e perverso, que colocou a fé a serviço do poder. O colonialismo se sustentou no tripé- Cristianismo, mercantilismo e escravismo, transformando vidas humanas em mercadoria, alimentando as riquezas das elites europeias e americanas, e consolidando um sistema racista, excludente e hegemônico que ainda hoje molda nossas estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais.

    O filme é contundente ao expor o que Harriet chamava de “o monstro da escravidão”. No Brasil, esse monstro perdurou por mais de 350 anos. Após a abolição, a elite branca tratou de apagar os rastros de sua crueldade, manipular os registros históricos e criminalizar a população negra. O mesmo movimento ocorreu em outros países. A pergunta que fica é: quantos anos durou a escravidão no Brasil e há quanto tempo, de fato, ela foi abolida? Será que tivemos tempo suficiente para reparar tamanha violência histórica?

    Termino este relato com indignação, mas também com um convite à reflexão: vivemos, de fato, em um planeta libertário ou seguimos em um sistema que ainda segrega por cor, gênero, condição socioeconômica ou aparência? Até que ponto podemos confiar em instituições — políticas, econômicas, sociais e religiosas — que manipulam informações e produzem narrativas convenientes às elites?

    A resposta, cada um deve buscar em sua consciência.

 

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