𝗢 𝗟𝘂𝘅𝗼 𝗲́ 𝘂𝗺 𝗟𝗶𝘅𝗼

 

FONTE: https://www.nationalgeographic.pt/ciencia/entropia-para-alem-caos-qual-seu-papel-na-ciencia_4703- Ilusão óptica de um caleidoscópio. Tal como num caleidoscópio, a desordem e o movimento das partículas microscópicas determinam o estado de todo o sistema macroscópico (Acesso 21/06/2025 as 16:47)

O Luxo é um Lixo: Reflexões sobre Assistencialismo, Influência e Hipocrisia Social

Pense por um momento no poder que temos quando, movidos pelo desejo sincero, decidimos ajudar quem realmente precisa. Não falo de gestos pontuais ou de caridade performática. Falo de parar de apenas cruzar a ponte e começar a olhar debaixo dela — como diria Drummond: “ali habitam pessoas”. Vidas invisibilizadas, ignoradas no ritmo frenético das nossas rotinas, mas que existem — e clamam por dignidade, não apenas esmola.

A discussão sobre ajuda e assistência precisa ser mais profunda e informada. No 18 Brumário de Luís Bonaparte, Marx — analisando a França pós-revolucionária — já sinalizava a importância de ensinar a pescar, oferecer um ofício, uma estrutura de emancipação. E, ao contrário do que muitos pensam, a ideia de assistencialismo institucionalizado não surgiu na esquerda, mas com a direita liberal, após a Crise de 1929, na forma do Welfare State. O Bolsa Família, apesar das controvérsias, é apenas um reflexo tardio dessa lógica, não sua origem.

Deixo claro: não sou comunista, nem socialista, nem adepto de dogmas ideológicos da esquerda ou da direita. Se fosse me classificar, diria que sou um autônomo crítico, fora das caixinhas políticas. Acredito que nascemos políticos — no sentido puro da palavra: seres de relação, de articulação, de influência. Criamos redes desde cedo: favores, trocas, alianças. Isso é política.

Mas reconheço o que há de podre no “reino do Brasil”. São os conchavos, os jogos de bastidores, os pactos entre famílias, igrejas, empresários e políticos locais que controlam, silenciosamente, quem entra ou não no “play” do poder.
E, especialmente em cidades do interior, onde o tradicionalismo ainda dita as regras, tudo isso se disfarça de “ajuda”, “inclusão” ou “filantropia”. Trata-se de um assistencialismo de fachada, que apenas garante mão de obra barata, não qualificada, e perpetua o ciclo da dependência.

Essa lógica é sustentada por uma ideia “moderna” de sustentabilidade, mas que no fundo não sustenta nada. Como dizia Marshall Berman:
“Tudo que é sólido desmancha no ar.”
O que se apresenta como modelo estável é, na verdade, um sistema entropicamente desmoronando, mascarado por discursos de inovação social e responsabilidade empresarial.

Fonte: https://www.linkedin.com/pulse/teoria-do-caos-e-comunica%C3%A7%C3%A3o-george-soares/ (acesso 21/06/2025 as 16:50)

Peço que se observe com atenção um fenômeno particularmente perverso: o uso político e econômico das chamadas “boas intenções”. Há empresários que se apresentam como filantropos, defensores dos pobres e da justiça social, mas vivem no luxo e ostentação à custa do sofrimento alheio. São figuras recorrentes em nossas comunidades, envoltas em discursos de amor ao próximo, empatia e caridade — mas que, na prática, operam verdadeiras engrenagens de desvio de recursos públicos, escondidas sob o rótulo de ONGs e Oscips “sem fins lucrativos”, movimentando milhões por meio de contratos questionáveis, favorecimentos e aparelhamento político.

É preciso reconhecer, com justiça, que existem sim ONGs e Oscips sérias, comprometidas com transformação social legítima, com transparência e trabalho de base. Infelizmente, são minoria — e muitas vezes silenciadas ou invisibilizadas por não se prestarem ao jogo do marketing social ou ao apadrinhamento político.

A crítica, portanto, não é contra o terceiro setor em sua essência, mas contra o uso distorcido que dele se faz. A verdadeira filantropia não busca holofotes nem lucros ocultos — ela transforma em silêncio e com ética.

Esses são os verdadeiros parasitas do povo humilde.

Vivem luxuosamente, acumulam bens, posam com troféus de responsabilidade social — mas são eles os maiores responsáveis por perpetuar a exclusão. Conheço muitos assim. E por isso repito sem pudor:

O luxo é um lixo.

 

Fonte: https://nossabrasilidade.com.br/augusto-de-campos-luxo/ (acesso 21/06/2025 as 16:51)

Quando se constrói à custa da miséria alheia, luxo é sinônimo de perversidade social.

Se queremos transformação real, precisamos romper com esse ciclo hipócrita, onde a “ajuda” é só vitrine, e a filantropia é moeda de poder.

A verdadeira solidariedade não ostenta, não exige aplausos, nem se exibe em redes sociais. Ela age em silêncio, transforma em profundidade e promove autonomia — e não dependência. 

Considerações Finais

Diante do cenário exposto, torna-se urgente repensar profundamente o papel e o funcionamento das ONGs e Oscips no Brasil. Embora muitas dessas organizações tenham surgido com propostas legítimas de transformação social, uma parte significativa foi apropriada por interesses particulares, políticos e empresariais. Em nome da filantropia, mascaram práticas de manutenção de privilégios, desviam recursos públicos e se sustentam sobre a perpetuação da pobreza — enquanto vendem discursos de solidariedade e empatia.

Esse modelo de assistencialismo caritativo, baseado em relações hierárquicas e dependência, não promove justiça social — apenas adia a miséria. O que precisamos é de uma abordagem holística e sistêmica, que entenda a sociedade como um todo interligado, onde desigualdades não se resolvem de forma isolada ou pontual, mas por meio de ações articuladas, intersetoriais e coletivas.

Uma verdadeira justiça social exige a construção de redes solidárias e colaborativas, onde educação, saúde, trabalho, cultura, moradia e dignidade se conectem como direitos universais e interdependentes. Isso só será possível quando abandonarmos a lógica do “dar o peixe” ou do “aparecer na foto da ajuda” e assumirmos o compromisso de empoderar pessoas e comunidades para que sejam protagonistas de sua própria história.

Portanto, não se trata apenas de criticar a hipocrisia da filantropia de fachada, mas de propor um novo paradigma: a transformação social enraizada em relações horizontais, éticas e emancipatórias. Uma sociedade verdadeiramente justa não se constrói com caridade intermitente, mas com ações estruturadas que rompam ciclos históricos de exclusão e promovam a dignidade para todos — sem espetáculo, sem moeda de troca, e com profundo respeito pela vida.

Fonte: http://www.fisica-interessante.com/fisica-termodinamica-entropia.html (acesso 21/06/2025)
  

 📚 Referências – ABNT

BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. Tradução de Carlos Felipe Moisés e Ana Maria Ioriatti. São Paulo: Companhia das Letras, 1986. 

DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. Obra completa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967. p. 896-897. (Texto: “Debaixo da ponte”).

MARX, Karl. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Obras escolhidas. 2. ed. Rio de Janeiro: Vitória, 1961. v. 1, p. 199-285.

VIERA, Joice Melo. Possibilidades de aplicação da análise de entropia nas Ciências Sociais e na Demografia. Ideias, Campinas, v. 4, 2014. 


 

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